domingo, 23 de maio de 2010

O COMEÇO E A HISTÓRIA DE MORENO ENGENHO

Moreno


“Num mapa da capitania de Pernambuco, publicado em 1665, de autoria do cartógrafo holandês Vingboone, aparece assinalado o engenho N. Sra. Da Apresentação que o relatório flamengo de 1637 diz pertencer a Balthazar Gonçalves Moreno (o Moreno Gordo das crônicas da época) embora não tenha sido o fundador do engenho, pois em 1618, alvará-régio de D. Felipe II revalidou a venda efetuada pelo judeu converso Carlos Frederico Drago, feita em 29 de fevereiro de 1616, pelo preço de vinte e dois contos e quatrocentos mil réis ao dito Balthazar, português chegado á capitania de Pernambuco em companhia de seu irmão Gaspar Gonçalves Moreno.

Recorda-se o leitor que a partir de 1565 começaram a ser distribuídas as terras na ribeira do Jaboatão, onde vastas glebas foram doadas, através de cartas de sesmarias, para fundação de engenhos de açúcar e conseqüente cultivo do solo, de maneira que sem se poder precisar a data exata em que o judeu Carlos Frederico Drago mandou levantar o engenho supõe-se que as terras foram adquiridas nos fins do século XVI ou principio do século seguinte.
Em 1657 a condessa de Penagião (titular da Casa dos Sá e Menezes) irmã do 6º conde de Atouguia que foi nomeado Governador Geral do Brasil em 1654, sogra do General Francisco Barreto de Menezes, vencedor das Batalhas dos Guararapes e governador de Pernambuco de 1654 a 1657, aparece como proprietária do engenho N. Sra. Da Apresentação. Em seguida o engenho foi adquirido por João de Barros Rego, capitão-mor de Olinda que se tornou dono de vasta extensão de terras, chegando a possuir doze engenhos. Com o decorrer dos anos, outros proprietários possuíram o engenho até que o mesmo foi parar ás mãos de Antonio de Souza Leão e de D. Rita de Cássia Pessoa de Melo( mãe do Barão). Nomeado Barão de Moreno, Antonio de Souza Leão era irmão do Visconde de Campo-Alegre e do Senador do Império Felipe de Souza leão. Chegou a possuir oito engenhos: Moreno, Catende, Xixaim, Viagens, Pitimbú, Carnijó, Bom-Dia e Brejo.

O engenho, localizado á margem da PE/7 permanece mais de um século e meio em poder dos Souza Leão, através de gerações que se mostraram fieis ao cultivo da terra e das tradições de família ao longo da qual desfilam nomes de referencia histórica de elevada nobreza, pois dentro do Estado, a família Souza leão é a que apresenta mais números de fidalgos ligados á nobiliarquia brasileira dois Viscondes (Campo-Alegre e Tabatinga) e seis Barões – Vila-Bela, Moreno, Jaboatão, Caiará, Gurjaú e Souza Leão.

Aos 21 de abril de 1749, o capitão-mor da freguesia de Jaboatão Domingos Bezerra Cavalcanti recebeu, por carta de sesmaria do governador D. Marcos de Noronha, duas léguas de terras pagando foro de seis mil réis por légua o que veio a transformá-lo em respeitável latifundiário, dono dos engenhos Morenos, Catende, Laranjeiras e são João Batista todos, na época pertencentes a jurisdição da freguesia de Santo Amaro do Jaboatão o que lhe dava rude autoridade sobre seus moradores. Em 1752 foi convidado a apresentar os títulos de suas terras e como não pudesse satisfazer plenamente as exigências do ouvidor de Pernambuco, João Bernardo da Gama, suas propriedades foram confiscadas e sensivelmente diminuídas. Em 1774 perdeu o engenho são João Batista em ação movida e ganha pelo capitão Luiz Pereira Viana e sua mulher Ana Correia de Araújo, donos do engenho Pereira, em Moreno.
Em 1884, a direção da estrada de ferro The Great-Western of Brasil Railway Company Limited pretendeu construir uma estação no ponto de cana do engenho Moreno, mas a família do barão de Moreno não consentiu e pôs a disposição dos ingleses qualquer outro terreno dentro de suas propriedades, entre os engenhos Bom-Dia e Xixaim. O ponto escolhido foi no engenho Catende e que daria, no futuro, o centro comercial da Vila Nathan , assim chamada em homenagem ao judeu Allan C. Nathan a quem foram outorgados poderes para dirigir e ultimar os trabalhos da fabrica de tecidos que durante muito tempo serviu aos morenenses”.


“O engenho do Moreno Gordo, durante a campanha da Restauração Pernambucana, foi palco de inolvidável acontecimento histórico. Quando Amador Araújo, senhor do engenho Tabatinga, em Ipojuca, atacou a guarnição holandesa sendo perseguido por tropa comandada pelo coronel Hendrick Van Huss. Foi no engenho N. Sra. Da Apresentação que ele, Pedro Marinho e João Paes Cabral encontraram abrigo e se juntaram ás tropas de André Vidal de Negreiros daí marchando para os Montes das Tabocas onde, 3 de agosto de 1645 derrotaram os flamengos numa batalha memorável que a História registrou com orgulho. Os batavos derrotados, refugiaram-se no engenho, mas perseguidos pelos insurgentes, daí se retiraram para o Recife. Afirma Jan de Laet que o coronel Arciszewski perseguindo D. Felipe camarão, por duas vezes, pernoitou com suas tropas no engenho, a 5 de setembro e 4 de dezembro de 1636.
Mas o fato que orgulha os morenenses e enche de ufania os proprietários do engenho, foi a visita que o Imperador D. Pedro II e sua imperial consorte fez a casa-grande onde jantou e descansou com destino a Vitória. No dia 18 de dezembro de 1859, o Imperador D. Pedro II e a Imperatriz D. Tereza Cristina partiram do Recife com destino á Vitória. Ás 7 horas da manha chegaram ao povoado de Tejipió e meia hora depois atingiram Jaboatão onde foram homenageados. Ás 9 horas Suas majestades eram recebidos no engenho, onde jantaram. Ás 17 horas partiram para as terras das Tabocas. No dia 20, ás 5 horas, os Imperadores regressaram a Moreno dirigindo-se ao engenho Catende do cel. Antonio Pereira da Silva, ali almoçando e jantando. Ás 16 horas regressaram ao Recife. Essa visita do Imperador e sua consorte ao engenho Moreno foi acontecimento de significativa importância histórica para os morenenses, tanto que a casa-grande do engenho ainda conserva parte do rico mobiliário, das telas e dos tapetes que ali se encontravam quando da visita dos Imperadores do Brasil”.

ANTIGA CASA DOS IRMÃOS MORENO GORDO 1628 AO LADO DO SOLAR ( HOJE EM RUÍNAS) E JÁ SEM NENHUMA PAREDE EM PÉ